Avançar para o conteúdo principal

tu.


"vejo o vento, atiçando a alma das árvores, empurrando nuvens, lavando o céu - mas não o sinto. tu encolhes o pescoço no casaco para te defenderes dele. [...] persigo-te para que o tempo exista. porque andas, e olhas o céu, e o encontras às vezes negro, ou cintilando como um escuro mar de jóias, ou chuvoso, ou ressequido de sol, sei que os dias passam. "
mesmo sem te ter (ainda) tocado, faltas-me. persigo-te.... ou ao que de ti vejo, anseio, interpreto nas nuvens de um ou outro céu. nas folhagens claro-escuras de determinada árvore. nos pequenos detalhes que se enrodilham nos meus olhos ao sair de casa. nos pormenores aos quais os meus dedos inquietos não conseguem resistir. nos pseudo-pedaços de ti que tanto me inebriam que fico, por vezes, imóvel, plantada no meio da rua, absurdamente louca e ausente, a pensar-te ali. o vento do qual te escondes, eu acolho. a luz que te encandeia, procuro. sacodes as estrelas das tuas noites insones, e eu colho-as, uma por uma, fecho-as, quais flores secas, no que tenho de mais precioso - os meus livros - para que resplandeçam nos breves minutos de fuga antes de adormecer. eu sei que os dias passam, mas correm tão lentos. eu sei que o (meu) tempo existe (por, através de ti) mas flutua tão devagar. eu sei que respiras, mas estás demasiado longe. eu sei que és o meu caminho, mas temo ter perdido o mapa. traz-me as tuas mãos e guia-me pelo teu corpo.
"podemos amar no escuro, sim; podemos amar na luz sonâmbula da ausência, podemos tanto que inventámos Deus."
ou Deus inventou-te na ausência sonâmbula da minha luz e agora não consigo (vi)ver sem (ser por) ti.


[ excertos : Inês Pedrosa - Fazes-me Falta]

Comentários

r.e. disse…
obrigado pela tua visita às minhas mãos também vazias na extensa madrugada. volta sempre. gostei da empatia entre os espaços. beijinho. J.
Beba Newmann disse…
Interesante texto
Anónimo disse…
és sonho que nasce nas noites que passo acordado a recordar os ventos que trouxeram as tuas palavras aos meus ouvidos surdos de amor... és luz que enche o meu horizonte onde o por de sol nasce com um brilho de futuro... és as pisadas que quero acompanhar por estradas onde me encontro em mapas teus... és o som que ecoa em estações onde te aguardo com bilhetes para mil viagens mais... és motivo, és causa, és partida e destino.. és o silencio das musicas que tocam.. que trazem memórias de dias onde foste o completar... aqui te espero.. nos cruzamentos de onde quiseres partir.. nos degraus que te levam a onde quiseres chegar..

Mensagens populares deste blogue

as palavras. (VII)

sozinha no [meu] sossego do quarto sinto as palavras a redemoinhar à minha volta. vou-as apanhando uma a uma, aconchegando-as em ramalhetes simples, o mais simples possível. chamam-me da sala, onde as palavras dos outros me fazem, por momentos, esquecer a ordem das minhas. pego na caneta e só consigo escrever [vazio]. ponho as minhas coisas debaixo do braço e a meio do corredor já as sinto [às palavras], em pézinhos de lã, a voltarem comigo [para mim].

feliz.na.vida[d].

e ... eis que este blog também adere à animação versão natalícia lançada pela thunderlady . e só apareço aqui assim, porque a rapunzel diz que é a minha spitting image : um cachecol ou lenço, a máquina sempre por perto. e os livros (conheço pelo menos uma pessoa que acharia que o mundo estava a acabar se eu não tivesse um livro) perguntam vocês? lembram-se de falar não há muito tempo de embrulhos de cantos muito regulares que deixavam adivinhar o que continham? ah pois. hoje já recebi o primeiro. e inesperado. [thanks ;)]. se a imagem pudesse falar desejar-vos-ia felicidade. hoje, amanhã, no natal, no próximo ano. como não pode, desejo-vos eu por escrito :)
E por vezes as noites duram meses E por vezes os meses oceanos E por vezes os braços que apertamos nunca mais são os mesmos    E por vezes encontramos de nós em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos E por vezes fingimos que lembramos E por vezes lembramos que por vezes ao tomarmos o gosto aos oceanos só o sarro das noites      não dos meses lá no fundo dos copos encontramos E por vezes sorrimos ou choramos E por vezes por vezes ah por vezes num segundo se evolam tantos anos David Mourão-Ferreira [september is the saddest month]