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houve.


houve um tempo em que não tínhamos medo de qualquer caminho. em frente, abrindo o peito às palavras e às lâminas, seguíamos. dedos em dedos, flanco com flanco. houve um tempo em que sermos nós chegava. para avançarmos pelos trilhos, ou recuar pelos atalhos. houve um tempo em que o destino se revelava ao virar de cada esquina. no transbordar de qualquer encruzilhada. houve um tempo em que nos bastava. ser o tempo e sermos nós.
hoje o tempo transborda de lâminas que abrem o peito como palavras. hoje há atalhos que se viram nos dedos, seguem e, de medo, rasgam os flancos. hoje o destino avança no tempo em trilhos que recuam. toda e qualquer encruzilhada, neste tempo, já basta para o tempo deixar de ser o tempo, para nós deixarmos de sermos nós.
(e isso) basta.

Comentários

Anónimo disse…
"Na noite que se avizinha, um mar de gatos com cio invade os
sotãos, ensanguentando as memórias com a dor pungente dos dias
em que o gume, o terrível gume das horas afiadas, rasgava os
espíritos. Já o clarão das ruas toldava os cérebros com
angústias venenosas e vertigens de suicídios sonhadores, na
vontade de fugir ao inóspito vazio do tempo da ausência..."

Adolfo Luxuria Canibal




houve um tempo em que nao interessava quem éramos, onde íamos. Chegavam as palavras e o desejo. Chegavam as pequenas certezas e a vontade de ir algures.

agora é tempo de sabor a vazio. o som não se propaga no vácuo por isso não adianta pronunciar qualquer palavra. vou a medo à procura do que o tempo me tirou de mim sem me avisar. sem me deixar conhecer(-me).

em vão.

o tempo. essa terrivel arma que me queima e me corrói como àcido..
Anónimo disse…
não te subestimes. isto foi um desabafo dentro do contexto do teu post, mas acredita, não te subestimes, as tuas palavras são poderosas. poderosas mesmo. *
obrigado pelos coments. gostei sobretudo do silêncio. *

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feliz.na.vida[d].

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