[sabias que]. naquele tempo a tua voz tinha um tom difuso. as palavras eram algo trocistas. como se não fossem suficientemente claras. para o que querias dizer de ti. nos silêncios sempre te ouvi melhor. nos silêncios a língua que não falávamos era nossa. [sabes que]. hoje a tua voz arrisca novos sons. numa língua (tão tua) e noutra (só minha). entre as tuas palavras que entretanto aprendi. e as minhas que agora, cada vez mais, recordas. deixemos as línguas falar no silêncio por nós.
sozinha no [meu] sossego do quarto sinto as palavras a redemoinhar à minha volta. vou-as apanhando uma a uma, aconchegando-as em ramalhetes simples, o mais simples possível. chamam-me da sala, onde as palavras dos outros me fazem, por momentos, esquecer a ordem das minhas. pego na caneta e só consigo escrever [vazio]. ponho as minhas coisas debaixo do braço e a meio do corredor já as sinto [às palavras], em pézinhos de lã, a voltarem comigo [para mim].
Comentários
A sério, dou por mim a rever-me em tanta coisa....
Beijinho
é recíproco, acredita.
beijinho
(o terroristazeco pegou-me o vício!)
costumo dizer a um amigo que se queixa de que as palavras para falar sobre algo muito específico andam arredias, que quando ele estiver pronto, elas surgirão. se calhar os teus silêncios ainda não estavam prontos para ser interpretados. aí não há que tentar mudar(-te). não se consegue "ler" algo à força de o transformar noutra coisa. por outro lado a vida encarrega-se de nos ir limando. a pessoa que era há alguns anos (revejo-me no teu "meio fechada e de poucas palavras") não é a mesma que (me) vejo hoje. as palavras podem ser as mesmas, mas a forma de as transmitir (ou o facto de finalmente as transmitir!) vai sendo diferente. os silêncios também.(agora o desabafo foi meu :))*