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anda morder-me. o coração.

do lado oposto da sala, fitas com interesse um ponto ligeiramente acima do meu ombro esquerdo. [os teus olhos acariciam o contorno de um pescoço, de um colo emoldurado a preto e branco].

do lado oposto da sala fechas o livro que tens na mão, pousa-lo com cuidado no braço do sofá. [algumas palavras ficam agarradas. levar-te. aos dedos. à boca.]

do lado oposto da sala cruzas a perna direita por cima da esquerda com ar indolente. [retesam-se os músculos das tuas coxas. todas as tuas terminações nervosas em alerta]

do lado oposto da sala fixas o teu olhar ocioso nos meus dedos nervosos. [e esticas os teus devagar, para deles disfarçar a inquietude]


do lado oposto da sala dizes anda, anda morder-me o coração.

e o outro lado da sala oposto ficou. de repente. no lado oposto. da sala.



(a frase anda, anda morder-me o coração lida em Morder-te o coração, de Patrícia Reis.)

Comentários

Anónimo disse…
"um ponto ligeiramente acima do meu ombro esquerdo"

Ui, ui... Um ponto (brilhante) acima do ombro esquerdo? :-P
Brida disse…
lol...se calhar fui influenciada pelo "meu" nome ao escrever isto. mas nope...not (yet) :P

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