abres a porta do restaurante para eu passar. afastas a cadeira ligeiramente, e voltas a encostá-la depois de me sentar. dás a volta à mesa e sentas-te à minha frente olhando-me pela primeira vez nos olhos. a ementa treme-te ligeiramente nas mãos (não sou só eu que estou nervosa?), mas quando me perguntas o que quero e fazes o pedido ao empregado já pareces seguro de ti como sempre. enquanto a comida não vem falamos daquilo que na brincadeira já tínhamos alinhavado como temas de conversa. trabalho. tempo. rubores. eu que sou mais calada fico por momentos quieta (eu não te avisei que isso poderia acontecer?) e tu fazes o que prometeste: ficas a olhar-me tempos infindos, até que não consigo senão soltar uma gargalhada e atirar-te com o guardanapo. sim, acho que foi uma boa maneira de quebrar o gelo...
sozinha no [meu] sossego do quarto sinto as palavras a redemoinhar à minha volta. vou-as apanhando uma a uma, aconchegando-as em ramalhetes simples, o mais simples possível. chamam-me da sala, onde as palavras dos outros me fazem, por momentos, esquecer a ordem das minhas. pego na caneta e só consigo escrever [vazio]. ponho as minhas coisas debaixo do braço e a meio do corredor já as sinto [às palavras], em pézinhos de lã, a voltarem comigo [para mim].
Comentários
Mas isso sou eu, que gosto de apostas altas!
Ando fascinada com o que escreves e finalmente decidi iniciar-me nestas lides...nunca sou capaz de escrever o que vai cá dentro.
E também já não me lembro de um jantar desses, com borboletas na barriga.
Beijo
Marta B.