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medo.

volto muitas vezes à tua rua. só que cada vez mais é cada vez menos a tua, a nossa rua. quero dizer-te tudo ao mesmo tempo e o que te quero dizer corre mais do que eu posso, corre muito mais do que eu quero. as tuas portas, sempre cor de morango maduro, a descascar, brancas como a cal que usavas no pátio, e o pátio, o pátio está verde como as folhas de louro que tinhas nos fios da roupa, e os fios da roupa, esses estão por um fio. e tentei espreitar para o pátio [rodei o trinco, e fez aquele barulho, sabes] e rodou, e abriu. e existe agora um cadeado prateado, esse bem reluzente, a segurar o portão. lembro-me de tudo menos do cadeado. e esse zomba agora, brilhante e forte, de tudo o que me lembro. e eu queria espreitar porque me sentia forte [não há maior fantasma do que o da ausência, e esse já o conheço], e queria espreitar porque me sentia pequenina [e faltava a tua mão na minha].
tenho cada vez mais medo de não ter nada mais do que memórias para transmitir.

Comentários

Jo Uliana disse…
lindo...

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as palavras. (VII)

sozinha no [meu] sossego do quarto sinto as palavras a redemoinhar à minha volta. vou-as apanhando uma a uma, aconchegando-as em ramalhetes simples, o mais simples possível. chamam-me da sala, onde as palavras dos outros me fazem, por momentos, esquecer a ordem das minhas. pego na caneta e só consigo escrever [vazio]. ponho as minhas coisas debaixo do braço e a meio do corredor já as sinto [às palavras], em pézinhos de lã, a voltarem comigo [para mim].

feliz.na.vida[d].

e ... eis que este blog também adere à animação versão natalícia lançada pela thunderlady . e só apareço aqui assim, porque a rapunzel diz que é a minha spitting image : um cachecol ou lenço, a máquina sempre por perto. e os livros (conheço pelo menos uma pessoa que acharia que o mundo estava a acabar se eu não tivesse um livro) perguntam vocês? lembram-se de falar não há muito tempo de embrulhos de cantos muito regulares que deixavam adivinhar o que continham? ah pois. hoje já recebi o primeiro. e inesperado. [thanks ;)]. se a imagem pudesse falar desejar-vos-ia felicidade. hoje, amanhã, no natal, no próximo ano. como não pode, desejo-vos eu por escrito :)
E por vezes as noites duram meses E por vezes os meses oceanos E por vezes os braços que apertamos nunca mais são os mesmos    E por vezes encontramos de nós em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos E por vezes fingimos que lembramos E por vezes lembramos que por vezes ao tomarmos o gosto aos oceanos só o sarro das noites      não dos meses lá no fundo dos copos encontramos E por vezes sorrimos ou choramos E por vezes por vezes ah por vezes num segundo se evolam tantos anos David Mourão-Ferreira [september is the saddest month]